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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Apocalipse: Poesia, denúncia e pronúncia!

Acabei de ler mais uma vez o Livro do Apocalipse. Extraordinária leitura! E mais uma vez, a impressão que ficou para mim é a de que o céu é e sempre será obra de um Deus todo poderoso, mas, paradoxalmente, esse Deus nos chama a construí-lo a cada dia, com uma vida dedicada ao seu Reino.
Nesta leitura, após algumas dezenas de vezes, descobri poesia, denúncia e pronúncia!
Na minha redescoberta do Apocalipse fui fisgado por algumas chaves de leituras. A primeira delas e a que mais salta aos olhos é a poesia. O livro das Revelações é poesia do início ao fim. A prosa quase não encontra lugar. É um mundo que emerge da capacidade imaginativa do seu autor como moldura e, constantemente, somos brindados com cânticos que provavelmente, eram entoados pelas comunidades oprimidas da Ásia Menor como este que está incrustado no capítulo onze. "Graças te damos, Senhor Deus todo-poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e começaste a reinar. As nações se iraram; e chegou a tua ira. Chegou o tempo de julgares os mortos e de recompensares os teus servos, os profetas, os teus santos e os que temem o teu nome, tanto pequenos como grandes, e de destruir os que destroem a terra". Para entender a mensagem do derradeiro livro da Bíblia é preciso estar munido de sensibilidade poética e se deixar embalar pelas melodias ora tristes, ora alegres, às vezes introspectivas, outras triunfantes e, sobretudo pelo silêncio
Lamento profundamente pelos que não conseguem ver o apocalipse como um livro de poesia e de Esperança. Apesar de todo o realismo sangrento que visita as páginas do livro, ele é completamente tomado pela certeza de que Deus tem o controle da história e tudo acabará bem. Diante das agruras provocadas pela sociedade anti-reino, não podemos nos desesperar. Deus está sempre ao lado daqueles que se alinharam com seu projeto de um mundo de paz e justiça. Mas, se por um lado essa esperança está amparada na certeza do controle divino sobre a história, por outro lado, o Apocalipse nos conclama a encarar a vida como o palco da luta do bem contra o mal e da nossa participação neste embate. Longe de ser aquela esperança alienada, bem característica dos vários grupos fatalistas, é uma esperança engajada e comprometida com a promoção da justiça e da fraternidade. Parafraseando o escritor da carta aos Hebreus: “na vossa luta contra o mal, ainda não resististes até o sangue”.
Desse modo, “é preciso saber viver”, sobretudo viver com dupla cidadania, a terrestre e a celeste. Assim, em tempos de crise, onde tudo se esmaga tudo se achata, tudo se reduz, onde tragédias acometem pais de família, não devemos, nem podemos, confundir o reino terrestre com o Reino celeste. É preciso evocar as palavras de santo Agostinho: “a cidade de Deus, não é a cidade dos homens”.
Na verdade toda denúncia, sobre o que é irregular no reino terrestre, como a que faz o profeta oséas: "Ouvi a palavra do Senhor... pois o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Sim, na terra só prevalecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar, e o adulterar; há violências e homicídios sobre homicídios. Por isso a terra se lamenta, e todo o que nela mora desfalece, juntamente com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem de dor.", é também uma pronúncia de como é no Reino de Deus. 
Logo os que são movidos pela esperança e certeza que nada foge ao controle do Todo Poderoso, podem viver, mesmo em tempos de crise, com dignidade, felicidade e prosperidade (Sl 128.2). O que redunda em viver com maestria e poesia na certeza de que o Reino de Deus “não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Romanos 14.17.
Essa certeza me faz lembrar as palavras de Pierre Teilhard de Chardin "Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual... Somos seres espirituais passando por uma experiência humana...”
            Penso que, imbuídos desta tríade: Poesia, Denúncia e Pronúncia, seremos capazes de aproximar-nos adequadamente do universo que envolveu o prisioneiro de Patmos que, mesmo preso pelo império, viu o que só poderia ser visto pelos que são do Reino, que não terá fim.
 Jesiel Cruz

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