“FOGO ESTRANHO”
NÃO É “FOGO PENTECOSTAL”:
FENÔMENOS
ECLESIOLÓGICOS NOCIVOS AO PENTECOSTALISMO CLÁSSICO BRASILEIRO.
Inegavelmente
o Movimento Pentecostal é, sem sombra de dúvidas, o maior movimento de
avivamento e santidade após a Reforma Protestante. Outros movimentos de grande
importância se destacaram ao longo da história do cristianismo, entretanto a
maioria dos estudiosos concordam que o Pentecostalismo clássico é, entre todos,
o mais revolucionário; como pode ser visto nas palavras do nobre Professor
Alderi de Souza Matos, professor de história da igreja no Centro Presbiteriano
de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo, e historiador da Igreja
Presbiteriana do Brasil, que assinala:
O moderno movimento pentecostal é
considerado por muitos estudiosos o fenômeno mais revolucionário da história do
cristianismo no século 20, e talvez um dos mais marcantes de toda a história da
igreja. Em relativamente poucas décadas, as igrejas pentecostais reuniram uma
imensa quantidade de pessoas em praticamente todos os continentes, totalizando
hoje, segundo cálculos de especialistas, cerca de meio bilhão de adeptos ao
redor do mundo. Mais do que isso, o pentecostalismo acarretou mudanças profundas
no panorama cristão, rompendo com uma série de padrões que caracterizavam as igrejas
protestantes há alguns séculos e propondo reinterpretações muitas vezes bastante
radicais da teologia, do culto e da experiência religiosa. (MATOS, 2006, P.24)
Ao
longo de sua trajetória o Pentecostalismo passou por diversas transformações,
entretanto mostrou-se
desde o seu início não ser um movimento passageiro, efêmero e logo, espalhou-se
por todo o mundo. Desde os movimentos iniciais como o metodismo de João Wesley
na Inglaterra, passando pelos Keswicks, Holiness e o movimento de restauração da fé apostólica
nos EUA, até o Pentecostalismo clássico
das assembleias de Deus no Brasil, o movimento sempre se caracterizou por sua
vitalidade na evangelização, com incrível capacidade de penetração nas camadas
sociais mais populares, ênfase na oralidade, permitindo aos menos instruídos o
acesso à salvação e ao conhecimento da Palavra, proporcionando-lhes a liberdade
de ação e culto. A presença do Espírito Santo na vida dos fiéis possibilita um
poder esmagador e instantâneo, mediante diversas experiências religiosas. Essa mensagem pentecostal, que ensina uma
experiência direta com Deus, através do batismo com o Espírito Santo, uma
experiência subsequente a salvação, é o elemento distintivo entre os
Pentecostais e os tradicionais.
De acordo com Pommerening (2008) Muitos são os fatores, internos e externos,
que contribuíram para a expansão do Pentecostalismo no Brasil, a saber: Fatores
externos: a) Ciclo
da borracha e migração para SP e RJ; b) Explosão demográfica nas grandes
cidades; c) Anomia e ambiente de sofrimentos e buscas; d) Limitação à oralidade
em católicos e protestantes tradicionais; e) Falar de Deus e falar a Deus; f) Mentalidade
cultural do espiritualismo.
Fatores
Internos: a) Êxtase: corporalidade e espiritualidade; b) Triunfalismo
Pentecostal; c) Possibilidade imediata do milagre; d) Autoridade Hierárquica;
e) Ascese como marco de inclusão social; f) Laicato.
É fato
que todos esses fatores facilitaram o crescimento do Pentecostalismo no Brasil,
como pode ser constatado na vantajosa expressão pentecostal no cenário
evangélico brasileiro.
No Brasil, a magnitude do
pentecostalismo é evidente a todos os observadores. Há muitos anos esse
segmento congrega a maioria dos protestantes. De acordo com o Censo de 2000,
dos 26,2 milhões de evangélicos brasileiros, 17,7 milhões são pentecostais
(67%). (IBGE, censo 2000, Apud MATOS, 2006, p.24)
Desta
forma no Censo de 2000, a escalada de crescimento já era evidente, pois o
número de evangélicos já chegava a 26,2 milhões, sendo a maioria de
pentecostais. E em 2010, o número de evangélicos quase dobrou, chegando a 42,3
milhões de brasileiros, ou seja, cerca de 22% da população nacional. Nessa
perspectiva o crescimento do Pentecostalismo já está tão consolidado que o IBGE[2] passou
a classificar o grupo de evangélicos sob duas nomenclaturas: 1) Evangélicos de
missão e 2) evangélicos pentecostais.
Todavia,
rupturas sempre foram marcas do Pentecostalismo desde sua origem e inúmeras
foram às ocorrências que levaram a fragmentação do Pentecostalismo clássico. Entretanto,
as recorrentes rupturas não foram suficientes para impedir o crescimento do
Pentecostalismo no Brasil e esse fenômeno tem chamado a atenção de
pesquisadores como Paul Freston (1994, 1995, Ari Oro (1996), Ricardo Mariano
(2004), Daniel Alves (2011), Alves J. (2012), Valdir Pedde (2013), e Marcelo
Tadvald (2013, 2015).
O
sucesso de crescimento do Pentecostalismo é, em grande parte, atribuído a sua
característica principal: Sua popularidade, de tal modo que esse movimento pode
ser considerado como um movimento popular, desde sua origem, com forte
participação dos pobres e dos socialmente excluídos (OLIVEIRA, 2004, p.27). É
interessante notar que esse fato, que caracteriza o Pentecostalismo clássico,
originalmente foi alvo das primeiras discórdias entre os grupos de missionários
suecos e americanos, e que nem sempre aparece
nas versões oficiais como assinala Pommerening (2008)
A historiografia da Assembleia de Deus
omite o fato de que houve certa rivalidade entre missionários suecos e americanos.
Suas ênfases eram contrárias em alguns aspectos. Os suecos enfatizavam a discrição,
a pobreza, a síndrome de marginalização, o anti-intelectualismo e a não
institucionalização, ideias totalmente contrárias aos americanos. Quais ideias
prevaleceram? Certamente hoje estão diluídas, porém pontualmente presentes.
Pelo fato dos fundadores da Assembleia de Deus terem conhecido o
pentecostalismo nos EUA pouco antes de virem ao Brasil, não receberam influência
institucionalizadora do movimento, conseguindo assim implantar um
pentecostalismo quase autóctone, se adaptando, como em poucos países, aos
ditames da cultura local, embora a liderança sempre tenha enfatizado o movimento
como contracultural (na questão da ascese). (POMMERENING, 2008, p.9)
Neste
sentido, o Pentecostalismo clássico tem sido vítima de críticas infundadas por
parte dos intelectuais, que, muitas vezes carente de fundamentação teórica e
metodológica adequadas, confundem o Pentecostalismo clássico com os movimentos dissidentes:
Deuteropentecostais, neopentecostais e pós-pententecostais, sob a alegação de
que a fé assume contornos de exploração psicológica e monetária por parte dos
pastores Pentecostais.
DISSIDÊNCIAS DO PENTECOSTALISMO
CLÁSSICO
Como
já sabemos as rupturas sempre fizeram parte da história do Pentecostalismo.
Entretanto o que tornou o movimento Pentecostal clássico suscetível às rupturas
foi exatamente sua ortodoxia em relação aos costumes, princípios e valores
arraigados pelos fundadores americanos
que sempre primaram por três conceitos fundamentais, a saber: O batismo com o
Espírito Santo com as línguas ininteligíveis como evidência inicial, a
contemporaneidade dos dons exercidos pelos cristãos e a volta de Jesus como
concretização da redenção. Essa ortodoxia em determinadas circunstâncias
contribuiu para os movimentos dissidentes, como, por exemplo, o
deuteropentecostalismo pautou sua atuação na cura divina, deixando de
concentrar seu foco na questão das línguas (glossolalia) por acreditar que as
línguas eram uma evidência e não uma exigência.
A
história do Pentecostalismo Brasileiro é melhor compreendida quando analisada
sob a perspectiva do quadro teórico metodológico apresentado inicialmente por
Paul Freston (1993) e retomado por
Ricardo Mariano (2004) e Ari Oro (2005). De acordo com o referencial teórico
desses autores o Pentecostalismo Brasileiro começou no início do século XX, em
1910, através de duas igrejas principais: a Congregação Cristã do Brasil,
fundada pelo italiano Luigi Francescon em 1910, e a Assembleia de Deus, fundada
pelos suecos Daniel Berg e Gunar Vigrem
em 1911. Estas duas igrejas dominaram o campo pentecostal brasileiro nos primeiros
40 anos, com sua ênfase concentrada no Batismo com o Espírito Santo, e
receberam tradicionalmente a designação de Pentecostalismo clássico. A partir
do Pentecostalismo clássico, dois novos
movimentos distintos vão surgir com filosofias eclesiásticas dissidentes, a
saber: O Deuteropentecostalismo e o neopentecostalismo.
O
Deuteropentecostalismo Também chamado de 2ª Onda (Freston, 1993) é uma espécie
de segundo pentecostalismo surgido no período de 1950-1970, com a chegada de
Harold Williams e Raymond Botright, pertencentes à Igreja Internacional do
Evangelho Quadrangular, tendo como berço a cidade de São Paulo. A segunda onda
tem sua ênfase na cura e no exorcismo (expulsão de demônios), e é marcada pelo
uso das mídias modernas (especialmente o rádio). As Igrejas dessa onda são as
surgidas entre as décadas 50 e 60, sendo as três igrejas de maior impulso:
Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), a única trazida diretamente dos Estados
Unidos; Igreja Pentecostal Brasil para Cristo (1955), a primeira cujo fundador
é brasileiro; e Igreja Deus é Amor (1962), fundada pelo Pastor David Miranda.
Além das Igrejas identificadas, acrescenta-se também a Casa da Bênção ou Igreja
do Tabernáculo Evangélico de Jesus – ITEJ (1964).
Na
prática da cura divina, com a técnica de imposição de mãos, algumas igrejas
desse grupo passaram a adotar práticas de manipulação, hipnose, e transes que
levavam as pessoas ao suposto “arrebatamento no Espírito”, “repouso no Espírito”
e o “gozo santo”, também conhecidos como “unção de Toronto” o que estimularia
uma série de emoções psicossomáticas que, muitas vezes, produzem efeitos
imediatos na sensação de que os seus males físicos foram sanados. Essas
práticas evidenciaram o distanciamento dos pentecostais clássicos, que nunca
concordaram com essas estratégias.
O
neopentecostalismo, oriundo do deuteropentecostalismo, também chamado de 3ª
onda por Freston(1993) é o grupo que mais se distanciou do Pentecostalismo clássico
por conta das aberrações da IURD (trataremos desse caso separadamente), mas as
principais igrejas que representam o neopentecostalismo são: a Igreja Nova Vida
(1975), a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980), a Igreja Cristo Vive
(1986) e a Igreja Sara Nossa Terra (1992), as quais seguem o estilo do
televangelismo oriundo dos Estados Unidos (Igreja eletrônica), embora tenha
características muito próprias. Essas igrejas se distinguem com um discurso
teológico narrativo com forte persuasão financeira. O uso dos meios de
comunicação de massa, e, de modo especial, a televisão é de vital importância
na sua característica. Organização em forma de empreendimento empresarial, com
finalidades lucrativas e forte entendimento do mercado. A relação dos membros
com a Igreja assemelha-se a um comércio religioso, no qual os bens simbólicos
produzidos são comprados a partir da frequência e do pagamento em campanhas.
O caso da IURD
Dentro
do neopentecostalismo a IURD (Igreja Universal do reino de Deus), foi a
denominação que mais se distanciou do Pentecostalismo clássico, em termos de
práticas doutrinárias e eclesiásticas, combinando elementos divergentes da
matriz religiosa brasileira (elementos do culto católico, protestante e espírita),
valendo-se de uma hermenêutica relativista e alegórica, passaram a usar a Bíblia
como pretexto para promover uma religiosidade sincrética perpassada por
práticas de conteúdo ético débil e de caráter mágico-religioso. A IURD
abandonou completamente os fundamentos da Teologia Pentecostal clássica que
defende categoricamente a Doutrina da Soberania de Deus, passando a promover um
discurso que responsabiliza os demônios pelo sofrimento humano e sacraliza o sucesso
e a prosperidade como sinais externos da visitação de Deus. Desta forma, a IURD,
estrategicamente, passou a propagar um discurso religioso fundado em uma teodiceia[3]
dualista, cujo principal pressuposto é a rotineira intervenção do diabo no
cotidiano do indivíduo, bem como sua libertação mediada pelos seus bispos e
pastores. Nesse cenário maniqueísta de batalha espiritual, o indivíduo é
constantemente levado a escolher sob qual território deve estar, “território do
bem X território do mal”, pois dessa escolha podem resultar sucesso e
prosperidade ou sofrimentos de toda a ordem. Escolher o território do Bem, e
efetivar essa decisão com o sacrifício de uma fé possuidora resulta em uma vida
próspera e regalada. Na IURD, a prosperidade e a fruição de bens de consumo são
condições de uma autêntica fé, cujo discurso converge com o ideário do mercado,
fazendo aflorar afinidades eletivas entre eles.
Ainda
como agravante, a IURD acabou protagonizando vários escândalos que acabaram por
criar a ideia errada de que todo o pastor é ladrão e de que as igrejas
neopentecostais não são sérias. Pior: inspirou a formação de novas denominações
que, juntas, passaram a designar um novo grupo chamado de “Pseudopentecostais”.
As igrejas pertencentes a esses grupos não possuem nenhuma identidade com os
grupos históricos e geralmente são “igreja de donos”, igrejas cujo líder é o
dono da igreja. São exemplos de denominação deste grupo: “igreja reino dos
céus” “igreja do Pastor Sá Sá”, “Igreja HICANTALABASSI”, “Igreja Jesus vem e
você fica” entre outras.
Tentativas de nivelamento
Um
grande equívoco cometido pelos intelectuais, sobretudo os sociólogos da
religião é o de pôr sob a mesma observação de “pentecostalismo” dois fenômenos
distintos, a saber: O pentecostalismo clássico, tipificado, no Brasil, pelas Assembleias
de Deus e pelo movimento dissidente, denominado “neopentecostalismo”, melhor
tipificado pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Naturalmente
não é uma tarefa fácil classificar as denominações dentro do universo
Pentecostal, pois em toda a sua história o Pentecostalismo nunca se apresentou
como um grupo homogêneo, sempre exibiu distinções eclesiásticas e doutrinárias
como salienta Mariano:
(..) As igrejas pentecostais enquanto
instituições em evolução dinâmica (...) não são organizações estáticas que
incham numericamente; estão em constante adaptação, e as mudanças são
frequentemente objeto de lutas. Ademais, o pentecostalismo possui grande variedade
de formas, e cada nova espécie vai enterrando mais alguns mitos a respeito do
"pentecostalismo" (Freston, 1993, p. 64)
Neste
sentido, algumas tentativas têm sido colocadas em prática; Siepierski(2004) foi o primeiro a propor a
nomenclatura de pós-pentecostais: um fenômeno que se seguiu a outro, entretanto
com ele não se conecta, pois “neo” se refere a uma manifestação nova. Neste
sentido, o Neopentecostalismo não pode ser confundido com o pentecostalismo,
pois representa uma inovação (um novo movimento) e não uma renovação. A
renovação, até certo ponto, é aceita pelos pentecostais clássicos, já a
inovação é sempre rejeitada como pode ser visto no posicionamento oficial
presente no site da CGADB (Convenção geral das Assembleias de Deus)
[...] Renovação ou inovação? Embora
muito semelhantes na pronúncia, estas palavras revelam-nos profundas divergências
no contexto pentecostal. Renovar é mudar para melhor ou melhorar em alguns
aspectos, enquanto que inovar é modificar o antigo e introduzir novos costumes,
novas práticas e, no nosso caso, novas liturgias e maneiras de adoração no
culto a Deus. Inovar, enfim, é querer tornar a igreja diferente, conformando-a,
muitas vezes, com o mundo. No meio em que vivemos, presenciamos todos os dias
inovações das mais diversas. Algumas, até razoáveis; outras, esquisitas,
antibíblicas. [...] Observamos esses fatos, apenas, para lembrar que não
precisamos copiar ou importar costumes e métodos para manter a estabilidade que
o Espírito Santo nos legou, até aqui. Liturgias humanas passam. Não, porém, a
liturgia dos cultos da igreja primitiva. [...] Rejeitemos essas inovações.
Devemos expurgá-las do nosso meio! [...] Renovar sim. Inovar não. (Dias, Jean.
Elaborador da webmaster da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil,
2007. Texto sobre o posicionamento da denominação “Inovações”. Disponível em: http://www.cgadb.com.br/sobreCgadb/posicaoSobre/inovacoes.html
acesso em 20/11/2007)
Correntes
de sociologia argentina já os denominaram de “iso-pentecostalismo”: algo que
parece, mas não é.
Lucidez
e coragem teve Washington Franco, em sua dissertação de mestrado na
Universidade Federal de Alagoas, quando classificou o fenômeno representado
pela IURD de “pseudopentecostalismo”: algo que não é. (Dissertação de
mestrado presente em: http://www.repositorio.ufal.br/handle/riufal/2542
aceso em
22/06/2018)
Um
estudo acurado dos tipos ideais, Assembleia de Deus e Igreja Universal do Reino
de Deus, sob uma ótica sociológica ou
uma ótica teológica, nos levará à conclusão de que se trata de duas manifestações
religiosas diversas, que não podem — nem devem — ser colocadas sob uma mesma
classificação.
A FORÇA DE RESISTÊNCIA DO
PENTECOSTALSIMO CLÁSSICO
O que
analisamos até aqui foi apenas parte dos dilemas e contradições que permeiam a
historiografia do Pentecostalismo Brasileiro que é marcadamente diversionista e
contraditório em termos de concepções doutrinárias, teológicas e ideológicas,
mas, felizmente, não foi capaz de extinguir o movimento pentecostal clássico.
Isso porque a resistência do Pentecostalismo clássico, diante dos movimentos
dissidentes, reside fundamentalmente na sua relação com os alicerces do
pensamento reformado (justificação pela Fé, salvação pela Graça, ênfase nas
escrituras, sacramentos bíblicos) que, na maioria das vezes, são defendidos
como pressupostos exclusivos das igrejas históricas tradicionais, quando, na
verdade, o Pentecostalismo clássico está ancorado nos princípios da reforma; porém, não da reforma oficial, mas, sim da reforma
radical. Portanto a incompreensão por parte daqueles que não enxergam uma relação
do Pentecostalismo clássico com o pensamento reformado está na própria
incompreensão da complexidade da Reforma Protestante como assinala Alister Mcgrath:
“O movimento conhecido de modo um
tanto vago como ‘Reforma’ surgiu de uma determinada matriz complexa e heterogênea
de fatores sociais e ideológicos, sendo que estes últimos se encontram
associados a personalidades individuais, movimentos intelectuais, escolas de
pensamento e universidades, de tal modo que desafiam as generalizações crassas
que constituem um número excessivo de interpretações desse fenômeno”.
(MCGRATH, 2007. p.183)
Na
maioria das vezes, nega-se qualquer relação do Pentecostalismo com a Reforma,
porque no Brasil o que predomina são as discussões em torno da reforma oficial,
que, de acordo com Bernardo campos (2007), “não foi um movimento dos pobres e
camponeses, mas dos nobres e dos príncipes, que influenciaram com sua
autoridade para apoiá-la”, ou seja, o cerne da reforma oficial era a questão
política da autoridade papal, enquanto o cerne da reforma radical era com a
ortodoxia cristã. Nesse sentido, o Pentecostalismo, enquanto movimento popular
está mais afinado com a reforma radical (Anabatistas[4]) porque,
por exemplo, defende o batismo consciente e por imersão e não por tradição
familiar praticado pelos pais na infância, como é comum às igrejas que se
originaram na reforma oficial (Luteranos, Presbiterianos e congregacionais).
Assim,
o Pentecostalismo clássico desde suas origens tem sua matriz teológica
profundamente enraizada na ortodoxia cristã, que foi o verdadeiro sentido da
Reforma Protestante como assinala Alderi de Souza Matos:
A reforma tem a ver com a restauração
da verdade bíblica, com o resgate das convicções básicas da fé cristã, em suma,
com o aspecto teológico, doutrinário. O reavivamento está mais ligado à vida
prática, à espiritualidade, à comunhão com Deus, ao aprofundamento da vida
cristã. Sem avivamento, a reforma pode tornar-se fria, formal e árida, reduzindo-se
a uma mera preocupação com a ortodoxia. Por outro lado, sem reforma, o
avivamento pode descambar para o emocionalismo superficial e efêmero, para o
individualismo que busca experiências arrebatadoras, mas sem um compromisso profundo
com Deus e com a igreja. Os dois fenômenos nem sempre caminham juntos, mas
deveriam caminhar. O apóstolo Paulo apresenta a fórmula ideal ao exortar os
efésios: “Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça,
Cristo” (Ef 4.15).
Desta
forma o Pentecostalismo clássico tem um grande desafio, que é, de se manter
firme na sua relação com o pensamento reformado em termos de ortodoxia cristã,
não permitindo que os modernos movimentos neo, hiper e pseudo pentecostais, que
se distanciaram profundamente das suas origens, se voltem contra os alicerces
do Pentecostalismo impondo suas interpretações e estratégia para alterar sua
identidade e integridade.
FENÔMENOS
ECLESIOLÓGICOS NOCIVOS AO PENTECOSTALISMO CLÁSSICO.
Como
vimos, é muito importante que os verdadeiros Pentecostais estejam atentos contra
as astutas ciladas dos movimentos “pseudopentecostais”, que inadvertida e
inapropriadamente são chamados de Pentecostais, mas que em nada praticam um
pentecostalismo original, bíblico, equilibrado e, sobretudo, que mantenha sua
relação com a ortodoxia cristã e o pensamento reformado.
Para
fins didáticos passo a elencar os “top five” dos fenômenos eclesiológicos que
são extremamente nocivos ao Pentecostalismo clássico, a saber:
Ø
Extravagância pseudopentecostal
na adoração.
Na Bíblia
existem muitas palavras ou vocábulos que expressam aspectos diferentes da
adoração, portanto não existe uma forma única de adoração a Deus. Por isso não posso limitar a adoração como se fosse apenas uma liturgia. Porém preciso destacar que todo ato de adoração deve
ser feito com decência, com inteligência, com coerência e, sobretudo, com
reverência, e por mais que a Bíblia autorize múltiplas formas, isso não
significa dizer que é de qualquer maneira.
O que
vemos claramente no ensino apostólico é que tudo dever ser feito com ordem e
decência (1Co 14.40). Nesse sentido, a palavra mais coerente no Novo Testamento
é “Pneumatikos” Pneumatikos, que é o vocábulo
grego que define a adoração guiada e definida pelo Espírito Santo “adoração
espiritual”, mediante a manifestação pública dos dons espirituais.
Entretanto o que temos testemunhado no cenário “pseudopentecostal” é uma série
de aberrações e extravagâncias, em manifestações que só fazem desfigurar e
difamar o verdadeiro Pentecostalismo, promovendo o escárnio e a descrença entre
os pecadores. Esses tipos de manifestações beiram a loucura e a sandice, por
isso no Novo Testamento é classificado pelo vocábulo “Manikos”
manicos, de onde vem a palavra manicômio, que descreve uma adoração
caracterizada por manifestações bizarras, que distorcem e abusam dos dons espirituais. Essas aberrações extravagantes
figuram no cenário pseudopentecostal com expressões, crenças e comportamentos
cúlticos, litúrgicos e até místicos ligados a “novas revelações e experiências
de fé” sem qualquer suporte das Escrituras, como muito bem salienta o historiador
pentecostal Isael Araújo:
Nos cultos “reteté”, pessoas marcham,
pulam, contorcem, caem, riem, berram, ficam rodopiando pra lá e pra cá num
verdadeiro reboliço. Geralmente, essa desordenada movimentação se dá enquanto
hinos são cantados em ritmos como forró ou axé, com batuques e pandeiros que
lembram reuniões do candomblé. Para os crentes do “reteté” só os seus cultos
são verdadeiramente pentecostais e têm o mover de Deus. Mas esses cultos
ultrapassam os limites da meninice e muitas vezes são pura expressão de
carnalidade e falta de temor a Deus. Seus dirigentes são obreiros neófitos que
não estimulam o povo a ler mais a Bíblia e ser mais equilibrados. (ARAÚJO,
2008, p. 27)
Assim
a estruturação ritual, cúltica e simbólica desenvolvida nos ambientes
pseudopentecostais, muitas vezes, beira a maluquice com práticas sincretizadas
com as magias dos terreais e das searas espiritualistas, passando pela via
mística e esotérica.
Portanto a melhor forma de
confrontarmos essas extravagâncias e preservarmos o pentecostalismo clássico é
com o ensino eficaz, sistemático e constante das escrituras, pois só com o
genuíno ensino bíblico e obdiência a Palavra de Deus não cederemos a tentação dos
descaminhos do pseudopentecostalismo.
Ø Mercantilismo esotérico
pseudopentecostal
Quando
o avivamento pentecostal chegou ao Brasil, os pioneiros pentecostais confrontaram
todos os elementos mágicos da religiosidade brasileira (patuás, amuletos, benzeções,
guias, rezas, feitiços…) pregando a substituição de todos eles pelo poder único
e exclusivo do nome de Jesus. Após, passados 100 anos os descaminhos do
pseudopentecostalismo parecem não reconhecer esse magnífico feito, pois no
cenário evangélico é cada vez mais recorrente a prática do esoterismo gospel,
com a mercantilização de amuletos e apetrechos mágicos vendidos em nome da fé, tornando
o cenário desolador e preocupante como assinala o saudoso Bispo anglicano
Robson Cavalcanti:
A crise da modernidade tem feito a
igreja voltar a pré-modernidade: ao dogmatismo e ao misticismo, ao mundo
mágico-mítico medieval. Com um ‘Cristo’ débil, demônios fortes e anjos
importantes. A teologia da prosperidade, a teologia do domínio (reconstrucionismo),
a batalha espiritual, com seus ‘demônios territoriais’ (geopolítica infernal) e
suas ‘maldições hereditárias’, nos enchem de justificadas preocupações. (CAVALCANTI,
2000, p.18)
Nesta perspectiva,
os pseudopentecostais praticam a simonia, pois "comercializam" as
bênçãos do Senhor, travestidos em objetos sagrados. Para piorar a
situação, sua soteriologia é pelagiana, sua pneumatologia manipuladora, e sua
fé maniqueísta.
Ser
pentecostal não significa ser esotérico, portanto precisamos voltar aos cultos
de ensino centrado nas escrituras e condenar peremptoriamente os modismos
pseudopentecostais que deliberadamente utilizam o mercantilismo esotérico para
comercializarem elementos mágicos como: galhinhos de arruda, sal grosso, água
ungida e amuletos diversos, o que, na verdade, se constitui um retrocesso ao
misticismo medieval, uma afronta ao ensino bíblico e um vilipêndio a Doutrina
da Graça.
Ø
Desprezo à autoridade da Bíblia
Nos
ambientes pseudopentecostais é muito comum as “doutrinas” serem fundamentas nas
experiências pessoais dos “superespirituais” e não na Palavra de Deus, ou seja,
as experiências são impostas como autoridade espiritual legitimadora do
comportamento que deve ser aceito e reproduzido por modelagem como, por
exemplo, unção do riso, da imitação de animais, de cair no espírito, danças,
movimentos etc. Não há base bíblica, nem
teológica para tais comportamentos, mas os fiéis, observando os
superespirituais, reproduzem o comportamento por modelagem. Nesses ambientes,
os textos bíblicos são esvaziados do seu contexto histórico-gramatical,
passando a ser utilizados apenas de forma alegorizada. O descrédito em relação à
Escritura é tão grande que, em alguns ambientes, a Bíblia passa a ser utilizada
como um livro de autoajuda ou um manual de coaching.
Desta forma a autoridade da Bíblia não é apenas desprezada, mas também
manipulada como salienta o teólogo Pentecostal César Moisés:
Para que a Bíblia seja utilizada dessa
forma, ela é submetida ao pior tipo de expediente manipulativo que se possa imaginar
– a chamada eisegese. O processo é
mais ou menos como um engessamento, pois o pretenso orador se aproxima do
texto, com os seus pressupostos, e empresta uma conotação não pretendida pelo
hagiógrafo para que a mensagem venha coadunar com suas invencionices. (MOISÉS,
2017, P 68)
O Pentecostalismo
clássico não abre mão da supremacia das escrituras porque sabe que a experiência
pessoal nunca é base para formar doutrinas, somente a Palavra de Deus é a nossa
regra de Fé e prática, ou seja, apoiados no pensamento reformado “sola scriptura” o Pentecostalismo
clássico defende que só a Escritura é o referencial absoluto de aferição de
todas as realizações da vida e da salvação, sendo ela a própria Palavra de
Deus.
Ø
Liderança Monocrática,
inquestionável e indissolúvel.
Parafraseando
a advertência de Jesus em Mt 7.21-23: Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor é
digno de ser reconhecido como um servo submisso ao Senhorio de Cristo”.
Infelizmente no meio pseudopentecostal prevalece um modelo de liderança personalista,
exclusivista, defeituosa, e completamente anômala ao modelo cristão, pois a liderança eclesiástica só pode ser desenvolvida a partir
do modelo de Cristo. Afinal de contas o modelo da Igreja de Cristo, sobretudo a
dinâmica de relacionamento entre Cristo e os seus liderados é a grande
referência da Igreja.
Então,
quando a liderança eclesiástica é desenvolvida a partir do modelo
Cristocêntrico, está consequentemente preservando a integridade da missão de
Cristo. Neste caso, “integridade” significa que não existe uma dicotomia entre
a liderança de Cristo e a liderança eclesiástica. “A igreja pertence a Jesus e
ele é o modelo para sua ação e missão. Quando a Igreja não se identifica com
Cristo e sua Missão, sua práxis será deformada e desfigurada” (BARROS, 2000, p.13).
Hoje é
muito comum encontrarmos igrejas, porque não dizer denominações, que NÃO são igrejas, na verdade,
são “propriedades de donos” onde o modelo de liderança adotado é corporativo,
empresarial, onde prevalece a política dos resultados econômicos, dos números,
das estruturas estáticas e do “status quo”. Nesses lugares, o modelo
Cristocêntrico ou Cristológico fica em segundo plano.
Neste sentido,
Segundo Barros (2000), só existe Liderança Apostólica (Liderança Eclesiástica)
porque existiram Atos de Cristo (Liderança Cristã). Assim, quando essas
inversões ocorrem, corremos os seguintes riscos:
ü
Institucionalização: É o risco de fazer a igreja o
centro de todas as coisas, o centro das atenções, do poder, da competição, da
Glória.
ü
Culto ao Personagem: É o risco de fazer o Líder o
centro das atenções, do poder, da autoglorificação, da influência.
ü
Ministério de Manutenção: É o risco de desenvolver
um ministério voltado para a manutenção do status
quo do líder ou da instituição. São ministérios onde não existe espaço para
o profetismo, mas sim para o messianismo.
Quando
isso ocorre, a igreja deixa de ser igreja, ela é qualquer coisa, menos
igreja. Em qualquer estrutura de liderança evangélica séria, em qualquer
denominação, independente se é reformada ou não, um líder com dez por cento
(10%) das distorções teológicas praticadas por patriarcas, apóstolos, bispos e
pastores dos movimentos pseudopentecostais, já terá caído.
Ø
Liberalismo Teológico.
Atrás
de toda a ciranda de práticas sincréticas do pseudopentecostalismo está escondido
o liberalismo teológico, movimento de caráter iluminista, que avançou na Europa
e nos Estados Unidos nos Séculos XIX e XX, promovendo esfriamento e matando
igrejas, principalmente históricas.
O
liberalismo teológico é a grande matriz da descrença na Bíblia como palavra de
Deus. Os liberais sempre negaram o sobrenatural, chamando de “mito”, “lenda” ou
“fábulas” o registro de acontecimentos históricos, milagrosos ou
extraordinários, que, para eles, são apenas explicações ou projeções das
pessoas na tentativa de descrever suas experiências ou entender a Deus. O
liberalismo teológico se valeu das teorias críticas para defender que o Antigo
Testamento (escrituras judaicas) fora editado com fins políticos, muito depois
de serem escritos, com interesse dos judeus de interpretarem e forjarem sua
própria História. Foi o liberalismo
teológico que disseminou nos cursos de humanas a ideia de que Adão e Eva não
foram pessoas reais, mas sim figuras lendárias, narradas pelo judaísmo, para
representar o homem no estado primitivo, vivendo nu como caçadores e coletores.
Enfim, o liberalismo teológico é o grande responsável pelo esvaziamento e pela alegorização
das Escrituras que tanto inspiram a criatividade dos pseudopentecostais nas
distorções de suas práticas litúrgicas; como assinala o nobre teólogo Douglas
Roberto Batista:
Um novo tipo de liturgia vem sendo ensinada ao povo evangélico brasileiro. Com grande apelo para a
prosperidade e a conquista fácil de objetos, muitos cristãos têm sido arrastados
para a prática de uma liturgia estranha. São latentes as práticas ritualísticas
que, na verdade, não passam de “simpatias” para se obter determinado tipo de
benção ou proteção divina. Nesses costumes enquadram-se a água “ungida” sob o
rádio ou a televisão para curar as doenças; cordões para “amarrar a satanás”, e
outros tipos de talismã que servem de verdadeiras muletas para os deficientes
na Fé. Em algumas igrejas, músicas e danças judaicas foram inseridas em um
retorno insensato às práticas judaizantes. Melodias e ritmos estranhos foram
inseridos nos cultos. Procuram-se introduzir coreografias sensuais e expressões
corporais de cunho duvidoso durante a ministração do louvor. Em algumas igrejas
imprimem em seus cultos elevada dose de emocionalismo falsificado de
pentecostalismo. Em tais lugares, o espaço é ocupado pelo louvor pessoal,
músicas de origem mundana e letras de conteúdos suspeitos, modismos neopentecostais,
ostentação de espiritualidade duvidosa e ministração de mensagens de autoajuda
de exegese indefensável em detrimento do genuíno Evangelho do Senhor Jesus
Cristo. (BATISTA, Douglas R. Liturgia cristã bíblica. Revista Obreiro aprovado.
Rio de Janeiro, Nº59, p.28, 2012)
Podemos
dizer que o liberalismo teológico é o grande mentor daquilo que o teólogo
Augusto Nicodemos (2011) tem chamado de “ateísmo cristão”, a ponto de um líder
de expressão mundial do movimento pseudopentecostal (O Bispo Edir Macedo) vir a
público para negar os postulados da Fé cristã ao defender condutas de morte que
atentam para a santidade da vida (defesa do aborto) como pode ser visto nas
redes sociais disponível em: < https://www.facebook.com/1291906547534145/videos/edir-macedo-declara-ser-a/1302237279834405/ acesso em 07/07/2018 e em
campanha publicitária da emissora oficial da Universal do Reino de Deus
disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=pSWMLtTzbnA> acesso em
07/07/2018.
Mas,
infelizmente, nem sempre isso é perceptível ao senso comum, como muito bem
salienta o teólogo Pentecostal Alex Esteves:
Como existem diferentes matizes dentro
do liberalismo, nem sempre se acharão num liberal todos os indícios correspondentes
a essa perspectiva teológica, mas, uma vez diagnosticado, o liberalismo pode
ser debitado, sem favor, à conta da incredulidade. É como se o liberalismo
teológico fosse a religião cristã sem Cristo. (ESTEVES, disponível em: <
https://artigos.gospelprime.com.br/aprenda-a-identificar-um-teologo-liberal/ >
acesso em 07/07/2018)
Assim
o problema que, no final do século XIX, era de ordem teológica (Liberais X Conservadores),
após um século de aprofundamento, no início do século XXI, tornou-se de ordem
moral (Valores Éticos X Pragmatismo), agora o que prevalece é a religião de
resultados, onde os fins justificam os meios, por isso tantos escândalos e
invencionices bizarras que nada tem a ver com o genuíno conteúdo do Evangelho. Pior:
atualmente, esse não é um problema restrito aos ambientes pseudopentecostais,
pois o liberalismo teológico tem penetrado sutilmente nas igrejas históricas e
pentecostais clássicas através da educação teológica oferecida para os candidatos ao ministério, como destaca o nobre
teólogo Pentecostal Alex Esteves:
Alguns, privilegiando cursos reconhecidos
pelo Ministério da Educação – o que, diga-se, não é necessário para a formação
confessional -, acabam reféns de disciplinas conduzidas por professores ateus,
céticos, incrédulos, que vivem a provocar e confundir as mentes de alunos
indefesos. Outra face do problema é a seguinte: professores liberais formam pastores
que, sem o devido discernimento, poderão reproduzir no púlpito as heresias que
ouviram no banco do seminário ou faculdade, e o farão sem necessariamente
entender que se trata de teologia liberal.
O liberalismo teológico é, pois, uma
ameaça real, não um tema de interesse exclusivamente acadêmico. Há o risco
concreto de que, sem o saber, igrejas históricas e pentecostais históricas
entreguem a professores liberais a orientação teológica de candidatos ao
pastorado, ou de que membros dessas igrejas, interessados em aprimorar seus
conhecimentos bíblicos, acabem preenchendo as fileiras daqueles que irão
receber orientação teológica fundamentada na falta de fé.
Cristãos conservadores conscientes
dessa realidade podem sobreviver a mestres liberais, mas aqueles que não forem
devidamente alertados poderão ficar confusos, enfraquecidos espiritualmente ou
mesmo se deixar seduzir pelo canto da sereia de uma intelectualidade crítica
aos fundamentos do credo histórico. (ESTEVES, disponível em: <
https://artigos.gospelprime.com.br/aprenda-a-identificar-um-teólogo-liberal/ >
acesso em 07/07/2018)
Portanto
pseudopentecostais e teólogos liberais têm mais a ver do que muita gente imagina, pois para
ambos os grupos a Bíblia é um mero pretexto para exploração da Fé alheia em
seus ambientes de manipulação e negação da autêntica Fé Cristã. Enquanto o
pseudopentecostalismo ensina a ter fé na própria Fé, o liberalismo teológico
ensina a ter Fé, mas não sabe em quem. Cabe-nos
aqui reafirmar a advertência de Jesus em MT 24.4 “Acautelai-vos, que NINGUÉM vos engane”, [destaque meu].
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[2] Fonte:
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com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/
caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf>.
Acesso em: 09/07/2018. Nota: Evangélica de missão: luterana, presbiteriana,
metodista, batista, congregacional, adventista e outras evangélicas de missão; Evangélica
pentecostal: Assembleia de Deus, Congregação Cristã, O Brasil para Cristo,
Evangelho Quadrangular, Universal do Reino de Deus, Casa de Benção, Deus é
Amor, Maranata, Nova Vida, Comunidade Evangélica, evangélica renovada não
determinada e outras evangélicas de origem pentecostal; e Evangélica não
determinada: outros grupos evangélicos.
[3] Doutrina sobre a justiça de Deus. Parte da filosofia que trata da justiça de Deus. Conhecimento de Deus fundado na razão humana. Presente em https://dicionariodoaurelio.com/teodiceia acesso em 04/07/2018
[4] Os anabatistas eram os mais influentes dos
reformadores radicais. Eles se espalharam por toda a Europa e ficaram conhecidos
como Menonitas. Eles foram assim chamados
porque os convertidos eram baptizados apenas na idade adulta, por isso, eles
re-baptizavam todos os seus prosélitos que já tivessem sido baptizados quando
crianças, pois creem que o verdadeiro batismo só tem valor
quando as pessoas se convertem conscientemente a Cristo. Desta forma os
anabatistas desconsideravam tanto o batismo católico quanto o batismo dos
protestantes luteranos,